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Milene C.S.

Estou me guardando para quando o Carnaval chegar - DOC

Atualizado: 16 de abr. de 2021

por Milene C.S.


Assistir esse doc de Marcelo Gomes (atualmente disponível via Netflix) é uma reflexão de muitas camadas... a gente fica meio perplexo, mas não entende bem. Se dá conta que é um fato, e que em outras proporções é o sistema do qual muitos estão inseridos.


A gente demora a captar o sentido, talvez porque não se dê conta de que o sistema capitalista negocia diretamente com nossos afetos...

A possibilidade de ganho, de inserção social, de fazer parte - se torna uma corrida no pedal das máquinas de costura em Toritama. A ânsia de vida vai se acumulando, e se "guarda" ali para os 4 dias do feriado de Carnaval. Assim, como de outras formas, guardamos para "viver" nos fins de semana, feriados e férias.


Mas que ânsia é essa?


Já está mais que provado que quanto mais exausto estamos, e muitas vezes sob condições de estresse físico, mental ou emocional - mais a roda do consumo vai girar, porque mais responderemos a uma voz interna de "merecimento".

Quanto maior a compressão, maior o desejo de expandir, é uma compensação natural. Essa expansão vai se dar naquilo que reconhecemos como prazer, e que pode vir também na forma de aceitação, e portanto, amor, prazer. É como se retornassemos ao quentinho e protegido útero materno nem que seja por instantes, ou estivéssemos inseridos na segurança de uma tribo, e isso é perfeitamente humano.


O excesso de consumo de roupas, sapatos, mobílias, quinquilharias diversas, comida aos vicios em jogos, entorpecentes e ao sexo, pode ser um meio de escape tão grande, que muitas vezes esse consumo vem sem questionamento, sem critérios dos meios que ali se inserem, do que pode causar em nível individual e sobretudo coletivo.


No sistema de afetos negociáveis, de exclusão de comunidades, da falta de redes de apoio e de valores naturais empobrecidos, o marketing e o capital é que se esbaldam.




A cidade de Toritama é um microcosmo do capitalismo implacável. A cada ano, mais de 20 milhões de jeans são produzidos em fábricas de fundo de quintal. Os locais trabalham sem parar e os moradores são orgulhosos de serem os donos do seu próprio tempo. Durante o Carnaval - o único momento de lazer do ano, eles transgridem a lógica da acumulação de bens, vendem seus pertences sem arrependimentos e fogem para as praias em busca de uma felicidade efêmera. Quando chega a Quarta-feira de Cinzas, um novo ciclo de trabalho começa.

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